Ele segura minhas clavículas e puxa com muita força, como se fosse me arrancar pelos ganchos, como se os meus ossos fossem uma arquitetura que ele precisa dominar por completo. A mão dele aperta a minha pele, ele reclama desse tecido que sobra, ele me quer sempre magra, ele gosta de mim com pontas.
Depois parte sem dizer uma palavra. Assim como é violento e não gosta de conversa, ele também é frágil. Escapa sem que eu perceba, fecha a porta em movimentos inaudíveis, e nunca mais aparece. Não sei seu telefone, onde mora, se tem amigos. Quando nos encontramos, não registro nenhuma ordem coerente para depois seguir os passos, como uma beata, voltando para o mesmo lugar, na mesma hora, com a mesma roupa.
Assim que ele se vai, sinto que estou acordando de um sono estranho. Acendo todas as luzes do apartamento, com medo de escuro, e visto casacos. A boca roxa de frio. Começa uma tremedeira, perco o apetite, tenho vontade de passar a semana inteira espalhada pelo carpete sem falar com mais ninguém.
Assim que ele se vai, inicio uma busca apurada. Procuro atrás das estantes, na cômoda, atrás do papel de parede, embaixo do piso, entre os móveis, no cheiro das roupas, debaixo das unhas. Qualquer indício de que aquilo foi real me serve, qualquer marca no corpo é motivo para exibir pelas ruas como troféu, como jóia preciosa.
E andar por aí de short, camisas sem manga e cabelos presos, mostrando para todos os olhos. Adoro quando me perguntam sobre as manchas na pele, apontando o indicador cheio de sobrancelhas e cenhos, e respondo com um sorriso. Sabe o que é, devo ter batido em algum lugar e esquecido, entende. É que sou muito distraída.