pra não ficar na gaveta

domingo, julho 06, 2008

 

De-lembrares

E no telefone a sua voz chega ainda acordando, tanta manhã que faz. Falamos em projetos, presentes, viagens, tanta coisa. Depois disso, dormi sono demorado, daqueles que a gente pensa e lembra e quer, mas o danado do olho não fecha. A cabeça teima em futurar acontecimentos que ainda não aconteceram, sentimentos e falas, e já eu fico atordoada de vontades, trocando de travesseiros a todo tempo. Imagino casa sem parede, mundo sem distância, tempo sem calendário, e o sono me acorda: deixa de pensar besteira, menina. Tenho dessas coisas desde pequena, de querer andar pelas paredes e sentar no ventilador de teto – ainda nessa época a gravidade não tinha força nenhuma –, mas o doutor me olhava de rabo de olho. Mamãe não gosta de filha dela pensando pensamento mal pensado, mas agora não tenho mais, prometo, passou. Mas por que o sol e a lua não aparecem juntos? Por que não posso ficar acordada? Ah, essas coisas de-lembrar. Só que já faz noite funda e tenho medo de susto, então apago a luz e fecho os olhos bem fechados. Agora não penso mais, palavra minha que fico bem quieta. Quieta feito planta. Quieta feito cômoda. Quieta feito coisa que não barulha.


(Nova Zelândia, 13/11/04)

Comentários:
Fico pasma com a data em que este texto foi escrito, Li.

Enquanto eu estava lá no Fórum você já escrevia assim. ;)

Beijo, prodígio!
 
Enquanto você estava na Nova Zelândia eu estava aí dentro.

Pena que perdi o resto da correspondência.

Beijoca,

JF
 
Quieta feito coisa que BARULHA... lembrei do plágio, hehe
 
Este comentário foi removido pelo autor.
 
grande texto. sonhar acordado é melhor. e mais sonho do que dormindo.
 
quieta feito couve-flor, chuchu ou beringela - mas da nova zelândia claro... e sentar no ventilador de teto, que sonho!
 
antes de comentar, deixo um grande OMGWTF pro isaías ali.

em 2004, eu não passava de um bebê. digo, eu escrevia também, como todo nerdzinho pseudo-cult aos quinze anos faz, e sempre fui de escrevinhar coisas aleatórias, coisas que vinham absolutas na cabeça, mas de um jeito tão rápido que as palavras e as explicações ficavam de lado. pois bem, hoje eu escrevo mais-ou-menosmente, muito melhor do que antes, mas não estamos falando de mim, né?, foi só um exemplo. então digo logo; você não parecia escrever antes diferentemente do que escreve hoje. tá tudo aí, os pensamentos, os sentimentos, e tudo tão pictórico, sabe? de um jeito diferente, óbeveo, mas tá tudo aí.

e, ah, parabéns, como de costume. mesmo que seja um pouco atrasado esse parabéns.
 
gostei, dobrei e guardei no bolso.
 
Fiz meu almoço e meu jantar, e naveguei por esse céu de estrelas cadentes, e sonhei um mundo feito de cartolina...
 
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