também eu pensei
em te escrever uma música
que tivesse gosto de sal
ou fruta-do-conde
aqui não chega o mar
soube da ressaca no domingo
aposto que você não viu
a foto no jornal
de boca vermelha
segura um punhado de areia
os cabelos brincam
eu só queria te dizer
desenhos em carvão da gisele
m&m de amendoim a um real
bananada dez centavos
livros raros você encontra aqui
pode vir freguesa a fruta-do-conde
tá fresca saborosa é só chegar
faço trancinha no cabelo
palavra cruzada trago o amor
adivinho o futuro vendo photoshop
faz um frio, um frio muito finoos prédios apontam a gente lá do alto
alguma valsa toca
fecho os olhos
e atravesso a rio branco
beberiquei chá na casa de uma senhora
que tinha o rosto redondo
e me aconselhava a manter diários
para
limpar a chaminéo truque é acordar e jogar no caderno
as primeiras impressões
um sonho fresco um
pensamento qualquer
sem se preocupar com a ortografia
a letra pode sair feia mas o truque
é desentupir
escrever três quatro cinco páginas
sem nunca reler
como uma sonâmbula
comi biscoitos de amêndoa
comprei um quadro que nunca
vou emoldurar
não pensei em você
sentada no sofá
do cine palácio
caderno na mão rosto sem
maquiagem espera terminar
a sessão de indiana jones
às oito e vinte
os dias têm sido longos
e não chove há três semanas
a promessa de que algum dia
vai morar
bem longe
o senhor na bilheteria
reclama do preço do ingresso
não tem meia-entrada? a mocinha
é irredutível
luz fraca e quadrados
de mármore nos pés
uma vassoura esfrega o salão
nenhum sinal de besouros
ou fuligem de mariposa