pra não ficar na gaveta
quinta-feira, setembro 28, 2006
naufragou. O ator
está nu está só
sem palco ou platéia
sob o sol de meio-dia (supõe)
não sabe se morre de tédio
inventando ampulhetas – é preciso
contar o tempo, segundos de areia
no horizonte encurvado. O ator
disfarça as ondas que quebram
e por pouco acredita que são
aplausos, súbito anoitecer e cair
do pano estrelado.
domingo, setembro 24, 2006
ciúmes desse hálito morno
pescoço recém-acordado, febril
os olhos se voltam very lazy
na tarde nublada que é sempre
domingo. Levanta para fazer
café (óculos no criado-mudo)
passos de meia no corredor de madeira
e lá longe um espirro: alergia
a acordar.
terça-feira, setembro 19, 2006
Num quarto de hotel
os dedos fazem acrobacias
entre fios de cabelo. Lá fora chove
e enormes poças se formam
no asfalto desfalcado: você
diz que em Alagoas gostava de
poças, de pular bem em cima das
poças, e saber a profundidade
exata, marca na barra da calça.
Depois os dedos silenciam
ao contrário do tectectec inerte
dos metrônomos
que não se calam na curva
sonolenta: delicado apagar
do abajur e boa noite
no ouvido.
sábado, setembro 16, 2006
A porta vai bater nesse instante nesse instante a porta já bateu. Não era tão difícil prever. Mas a verdade é que não conseguiu conter o espanto, sentado no sofá o corpo mal cabia, extremidades grandes demais, todos esse vícios de linguagem. Ele reconhece os cacoetes: essa careta quando os olhos batem de frente, pequeno deslize na região nariz-boca, ele às vezes esconde com a mão, ou vira o rosto, mas isso só acentua a falta de naturalidade. Olhou, viu, não gostou. Não que imaginasse de antemão, se imaginasse não teria topado o programa, melhor seria ir para casa, tomar um café, folhear revistas numa banca. Ligar para o tio-avô, comprar aquela caneta para a aula de desenho, escrever um bilhete: mãe, volto mais tarde, e voltar mais tarde ou só quando o dia clareasse ou nunca mais. Mas e agora, esparramado ali, teria que se levantar, cumprimentar, agradecer o jantar, agradecer a noite linda, agradecer a lua boiando na varanda, agradecer tanta generosidade? Às vezes pensa que precisa de uma porta de emergência. Um táxi, por favor.
segunda-feira, setembro 11, 2006
A gente que também é fraco descansa
nesse banco de ônibus
com destino improvável/ previsto.
Através da janela, a tarde
mal chega, o sol inclinado.
Todos em sono e eu
insone: os dois olhos
acompanham a coreografia
da respiração. Estufa o peito
cartilagens das narinas
a boca entreaberta, inabalável até
com essa freada, buraco no asfalto
– ele dorme tão profundo.
sábado, setembro 02, 2006
o dia que desbota
em nuvens
não guarda segredos
como desenho
feito com uma linha
só, o tempo
não tem ordem
não se divide
em capítulos
ele
(não só por causa do azul)
(nem por conta dessa música)
(ou por culpa da primavera)
(mas por isso tudo também)
é assim:
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